quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Inimigo Invisível.


Estava ele pronto para encarar a força da natureza. No auge dos seus vinte e seis anos em plena forma física, havia também se preparado mental e fisicamente, fazia Yôga há mais de dois anos, treinava regularmente e  fez viagens aos mais diversos e exóticos cantos do planeta para galgar degrau por degrau a confiança necessária para desafiar aquelas ondas gigantes.
Da praia famosa e paradisíaca via as ondas á distancia, sabia do grau do desafio que havia se proposto, mas daquelas areias brancas o mar não parecia tão perigoso. Nessa hora a confiança, à vontade e a agitação de estar vivendo aquele momento sonhado desde a adolescencia o deixava excitado e feliz.
Mesmo assim ao tomar a derradeira iniciativa de entrar no mar, acompanhado de dois grandes amigos Marcelo e Renato, que como ele estavam ali pela primeira vez, um arrepio lhe percorreu a coluna cerebral, e um frio na barriga anunciou que um companheiro estava dentro si, o medo.
Marcelo nada disse e foi tratando de pegar sua prancha e começou a se preparar. Renato olhou e disse; “vamos nessa?” “Claro” respondeu de imediato, e começou os preparativos. Com a decisão tomada, o coração se acelerou, os preparativos com o equipamento, aquecimento e alongamento só postergavam o inevitável, ele pensou; vim aqui para isso, não vou amarelar agora. Era um compromisso consigo mesmo, aquelas coisas que cada um tem dentro de si, que para os outros nada valem, mas que tem um valor íntimo, pessoal muito da alma.
Atirou-se ao mar e começou a remada. O coração batendo forte era só reflexo da adrenalina que começava a percorrer seu corpo. Quanto mais se aproximava da zona de arrebentação das ondas percebia que realmente era tudo diferente do que já havia experimentado, o volume de água deslocado, o tamanho das ondas que passavam fácil dos quatro metros de face.
Ao ver a primeira onda de uma série, junto com todos que estavam lá, começou a remar com todas as forças para o fundo, pensou “não quero tomar essa onda na cabeça”, ao passar pela primeira, viu a segunda mais ao fundo e aí, o desespero se instalou de vez. Conseguiu passar por ela no limite mais na terceira, já vinha do fundo uma espuma branca enorme, um rolo compressor de água, ele abandonou sua prancha e mergulhou o mais fundo possível.
Mas nada o havia preparado para o “caldo” que viria, o tranco da onda o jogou como um boneco para cima e para baixo por um tempo muito longo. Quando a onda finalmente o libertou, abriu os olhos nadou para a superfície, percebendo que estava bem no fundo, foram várias braçadas até finalmente, já quase sem ar voltar à superfície.
Estava muito assustado e o medo tomou conta da sua mente. Ficou ali observando as ondas e os surfistas a surfa-las. Aos poucos se acalmou permaneceu ali, sem reação por mais de uma hora, quando, finalmente conseguiu controlar seus pensamentos, falou para si mesmo:
“Viajei até aqui para isso, há anos venho me preparando, meu grande sonho sempre foi vir ao Havaí e surfar essas ondas, não posso perder para mim mesmo, preciso ao menos tentar uma onda”.
Com isso em mente, ele se posicionou junto com os outros surfistas, as series de ondas entravam, ele foi acertando o posicionamento era difícil pegar uma, pois várias lendas do esporte estavam na água e dominavam a situação.
Estava ali meio resignado e derrotado, quando veio uma da serie e não havia ninguém para disputá-la, estava na posição certa com a prioridade. Seu coração disparou e pensou seja o que Deus quiser, nessa eu vou. Com a adrenalina a mil no sangue remou forte, olhando para frente, determinado, concentrado.

Foi quando sentiu a onda o levando, ficou de pé e desceu com tudo aquela parede de água. A velocidade era absurda, chegou a base da onda e fez a virada, posicionou a prancha e pode ver aquela onda maravilhosa, enorme. O barulho da onda quebrando atrás dele era como o de uma avalanche. Surfou a onda toda até o fim e sentiu toda a sua energia.

A sensação era indescritível. Um misto de alegria, orgulho, adrenalina tudo junto e misturado. Nem voltou para o fundo, saiu do mar com um largo sorriso e os olhos brilhando. Ele já não era mais o mesmo.

 Havia vencido o pior inimigo de todos nós, aquele que fica escondido bem lá no íntimo do nosso ser; o medo de fracassar. Agora a praia de Sunset era um pouco sua. Tinha dado o primeiro passo, surfou a primeira onda, abriu o caminho.