terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Reencontro





Fui para bem longe, do outro lado do grande mar,
e nessas terras estranhas, donde nunca antes havia pisado
encontrei quem eu menos havia imaginado.

Estava lá, dentro de mim, porém camuflado,
escondido, quase perdido, talvez ibernado
mas não morto, como havia imaginado .

Independente, único e sobretudo completo
sem nada a acrescentar, sem necessidades,
simples e universal, imortal...

Sobreviveu aos percalços da vida,
seus próprios demônios venceu
e bem no fundo, escondido de todos, lá estava eu
eternamente, completamente e somente eu,
nada além, nada mais.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Tudo Passa.





Sabe aquela dor profunda, da alma, que provoca um buraco no peito, sim aquele vazio que parece que vai te engolir como os Buracos Negros do espaço engolem as estrelas? Pois é acho que sabe do que estou falando! Convivi com essa senhora muitos meses. Na verdade acho que a tal senhora já morava dentro de mim, como acho que todos os humanos desse planeta a tem dentro de si.

A chapa esquenta quando um gatilho detonador libera o monstro. Pode ser a morte de uma pessoa amada, o rompimento de um relacionamento, uma traição, uma decepção, qualquer coissa serve para liberar o monstro que muitas vezes engole a vítima literalmente. As vezes o detonador não é externo, mas interno, coisas da alma, uma tristeza sem explicação, depressão, ou qualquer doença que jogue a pessoa no chão e a faça sentir essa dor, que não é física, mas pode superar muitas das piores dores do corpo.

Uma vez liberada, literalmente comemos o pão que o diabo amassou, e não há remédio simples e indolor que resolva. Mas tudo que escrevi até aqui não tem novidade nenhuma. A novidade vem agora: a danada um dia passa!

E quando esse dia chega é muito bom. A leveza e o alívio são indescritíveis, a sensação é parecida de quando se tira um sapato apertado do pé. Nesse dia você se percebe sem a dor incômoda. Esse dia chega quando deixamos de lado o passado e o futuro e passamos a viver o agora, o momento presente.

Deixamos de ser os nossos problemas, e passamos a ser nós mesmos. E quando isso acontece, conseguimos ver os nossos problemas como um observador neutro e aí meu amigo, a vida aflora, renasce. Fica tudo mais colorido. A felicidade brota de dentro e não de fora, ou por conta de uma pessoa amada, ou por conta de um objetivo alcançado.

Se olharmos a nossa vida esquecendo-se do passado e do presente e focando no agora, no momento presente, em estar vivo, sentindo, se emocionando, aberto ao novo, aberto à vida, todos os problemas ficam pequeninos, ridículos mesmo. E nessa hora a dor some, o peito se enche de esperança, de fé e de alegria.

A felicidade e a paz não está nem em um futuro ideal e nem num passado nostálgico, não está na pessoa amada e não está em ter sucesso ou ser rico. A felicidade está no agora, no momento presente, não onde queremos chegar. É no caminho que se encontra todo o néctar da vida, a magia, a pureza, o divino.

Esse texto eu dedico a uma pessoa que muito me inspirou. Não a conheço pessoalmente apenas leio seus textos em seu blog http://etudoverdademesmo.blogspot.com.br/ . Em seus textos eu consigo vê-la. Vejo a sua simplicidade, vejo sua força, sua dor, vejo a coragem de uma guerreira que nunca desiste da luta. Sinto-me seu cúmplice, alguém que partilha de seus sentimentos. Adriana a sua luta é a minha luta, é a luta de todos nós!

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Uma Noite Só.




Uma noite não mais me senti só.

Me sentia só mesmo quando não estava.

E procurava nunca estar só.

Isso se foi... é libertador!

Não estou mais só porque tenho a mim.

E comigo, tenho todas as almas em uma só.

E só isso me basta.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cinco Sentidos


Faz quase um ano que perdi um dos sentidos. Nesse mesmo tempo, o sentido das coisas se perdeu. Muito do que fazia todo sentido, hoje já não faz mais. Ás vezes sinto falta, ás vezes é a falta que sente. E assim vou-me indo com quatro sentidos, que na verdade, só servem pra algo se realmente prestarmos a atenção neles. Hoje, diferentemente de ontem, me sinto muito mais atento, mais presente e mais "ligado" do que quando tinha os cinco junto comigo.

Percebí aquilo que um deficiente visual ou auditivo percebe rápido: existe muito mais para se perceber, se conectar, do que os cinco sentidos conseguem captar. Outra coisa que faz todo o sentido é que eu estava desconectado, ouvia, via, cheirava, degustava e sentia na pele mas, nada conseguia penetrar no meu ser, eu era inantigível. Eu era um alienado, no sentido figurado, claro.

Nesse quase um ano, renasci, me reinventei, sobrevivi e paguei preços altos tanto na entrada como na saída. Custou caro estar "alienado", mas me custou muito caro sair desse alienação. Não percebia como estava, achava que estava tudo normal, eu tinha meus cinco sentidos perfeitos, a minha vida fazia todo o sentido. Tudo estava em seu lugar, aparentemente. Essa aparência é fatal. De aparências se perde uma vida, ou melhor, se perde os sentidos.

E junto com as aparências se foram também as certezas. O que foi muito bom, apesar de muito dolorido. Descobri que não existe certeza nenhuma em nada na vida, somente aquelas que criamos. Mas essas certezas que criamos são traiçoeiras, porque são falsas. E com o tempo, vão se tornando monstros que fatalmente, um dia, irão nos devorar. A única certeza que tenho agora, é que tudo que vive um dia morre e mais nada.

E com quatro sentidos vou vivendo e aprendendo. Aprendendo a realmente sentir as coisas, sentir a vida, sentir eu mesmo. Que os quatro que me restam fiquem comigo até o fim, e se não ficarem, que eu aprenda a sentir sem nenhum dos sentidos. O que cá entre nós, faz todo o sentido.
   

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Minha Pele Gosta da Tua


Vontade que antes não existia.
E agora ela totalmente me contagia.
Uma urgência , uma contingência.
Querer estar, querer ficar....
Fazer o tempo parar.
O que será? o que vai dar?
Do futuro nada sei...
Mas  hoje, somente sei que:
Minha pele gosta da tua.


terça-feira, 2 de julho de 2013

Apenas um Poema



Teu sorriso me contagia.
Teu olhar me ilumina.
Tuas palavras me acomodam.
No coração uma sensação.
De alegria e fascinação.
Pela vida, pelas coisas.
Pelo mundo, por ti.

Sentimentos diversos provocas em mim.
De todos eles um em particular.
Que em mim causa uma  emoção.
Atinge primeiro o coração.
Se espalha por todo meu corpo.
Energiza todos os meus átomos.
Causa, embaralha e se espalha.

Real e nada fantasioso.
Difícil a  percepção.
De tal sutileza.
De pura grandeza.
Sem nomes que aprisionam.
Pois que essa pura magia,
Impossível é de ser contida.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Manifesto







Manifestar, o direito de falar.
Expressar, gritar...
Tudo que vem do coração, da mente.
Caminhar e cantar livremente.

Liberdade...que não virá cândidamente.
Mas sim de um despertar!
E de dentro para fora irá nos libertar
e também nos salvar.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Refazenda



E a cada dia vou renascendo,
uma refazenda acontecendo,
se desfazendo de crenças
e de todas ilusões pretensas.

Das personalidades que não sou eu.
Dos mitos e falsos eus.
Que coabitam, escondem, maqueiam,
permeiam e falseiam...

E a cada renascer coloco um pouco pra fora.
E a cada dia minha alma chora.
Com altivez e alegria...
Pois a cada dia a minha verdade aflora.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Minha Alma Tua Alma




Nesse lugar onde tua alma se esconde.
Onde quer que for e seja ou em que momento se encontre.
E mesmo que toda a eternidade eu leve.

Lá me encontrarei num certo momento, com o mais puro sentimento.
Que do meu ser resplandece de dentro.
O amor da alma, um comprometimento.

E farei deste momento eterno.
Uma luz, um brilho de ternura e de encantamento.
Onde minha alma encontra a tua.
Onde minha alma é espelho da tua.


segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Mergulho


Mergulhei fundo dentro de mim.
Passando por camadas sem fim.
De medos e de apegos.
De egos e superegos.
De corpos físicos e etéreos.
De tudo que não sou.
Lá no fundo, escondido.
 Encontrei-me, firme e intacto.
Muito leve e sereno.
Alegre e desperto.
 E nada mais espero.
Pois quando se é;
Não existe o eu e nem o quero.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Por que Escrevo.


O coração aperta no peito,
E eu me sento e escrevo.
Os sentimentos afloram,
E as palavras brotam.
As emoções cintilam,
E as frases se juntam.
Assim me expresso,
E jogo no universo.
Tudo o que em mim está impresso.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Simples e Intenso


Ser intenso.
Um contra senso.
Total falta de bom senso.
Viver tudo que penso.
Entregar-se sem arrependimento.
Amar com comprometimento.
Assim, simples e intenso.



quarta-feira, 22 de maio de 2013

Amanheceu




Hoje amanheceu.
E meu coração se entristeceu.
Das dores das coisas.
Da vida que aconteceu.

Sentimentos do meu eu,
que afloram, que afrontam.
De lembranças, de momentos.
De tristezas e alegrias que se foram.

Um encontro comigo mesmo.
Um acerto de contas, feridas abertas.
Que um dia hão de cicatrizar,
Assim como hei de me perdoar.




quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Que Te Fazes Eterno.


Vivas e deixes viver.
Sem medos ou receios.
Sejas e deixes ser.
Tu mesmo.
Esqueças tudo que não és.
Sem máscaras ou rótulos.
Apenas o essencial.
Sentimentos e emoções.
Amores e dores.
São  o que te fazes eterno.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

As Múltiplas Faces de um Homem.

                         Leonel Itaussu in memoriam


 Os seres humanos são complexos, múltiplos. Temos dentro de nós facetas diversas, que se manifestam diariamente em toda a nossa vida. Somos profissionais no ambiente de trabalho, amantes para nossas companheiras, filhos para nossos pais e assim por diante. É claro que a nossa personalidade e caráter se fazem presentes em cada papel que desempenhamos.

 Geralmente ao falarmos de alguém atribuímos-lhe alguns adjetivos que seriam os mais marcantes. As vezes nem isso, atribuímos à pessoa em questão aquilo que para nós se mostrou. Um grande professor, um pai exemplar, um frio assassino. Assim um  mesmo homem pode ser o algoz implacável de sua vitima e também um pai amoroso para sua filha.

 Quando um grande homem morre, vemos por todos os lados homenagens que descrevem principalmente os grandes feitos que tornaram sua existência importante para a sociedade. No caso do Prof. Leonel Itaussu são inúmeros livros publicados, discursos, ensaios e a participação direta em várias ocasiões da vida política e institucional do país desde meados dos anos 70, reconhecido pela ética, luta pelos direitos humanos, liberdade e coerência.

 Esse Leonel, grande, famoso, que muitos conheceram e conviveram que só traz um sentimento de orgulho para seus familiares representa um ângulo, uma faceta da sua pessoa. Talvez o seu lado mais conhecido e que o tornou muito famoso e reconhecido, legítimo mas não completo. Por tudo isso, quero apresentar a todos um Leonel que pertence a mim, aquele que foi meu sogro, amigo e avô dos meus filhos.

 O conheci, em meados de 1996, quando comecei a namorar a sua enteada , a quem sempre tratou como filha. Em 2002 se tornou meu sogro. A simpatia que nutria por ele era recíproca. Meu sogro era um ser humano intenso, que vivia cada momento com uma entrega impressionante. Tanto os bons quanto os maus momentos. Era capaz de gestos de extrema generosidade e gentileza, mas quando era desrespeitado ou ficava contrariado sabia deixar bem claro para todos seus sentimentos.

 Eu adorava visitá-lo. Era sempre um grande prazer conversar com ele. Um interlocutor fantástico, que gostava de conversar sobre tudo; literatura, a vida, artes, viagens e principalmente sobre política. Em nossas conversas não havia espaço para a prepotência. Gostava de ouvir as minhas opiniões e quando não estava de acordo argumentava, ouvia minha resposta e contra argumentava sempre com a paciência típica dos bons professores. Tinha um interesse genuíno pela minha vida pessoal, profissional e familiar.

 Quanto aos netos, três meninos meus filhos e uma menina, filha de sua outra enteada, era um avô fantástico. Apesar de não ter uma ligação de sangue com nenhum deles, era um avô legítimo, daqueles que desmarcam compromissos ou visitas de amigos para estar com eles. Tinha um amor incondicional por todos. Falava com orgulho de seus netos, nunca em nenhum momento e em nenhuma situação alguém o ouviu explicar ou dizer que eram filhos da suas enteadas. Eram seus netos e ponto final. Também nunca chamou suas três enteadas por este nome, eram suas filhas.

 Nunca esquecerei a ultima conversa  que tive com ele. Falou-me do seu novo projeto, escrever um livro sobre as relações de trabalho no mundo de hoje. Me perguntou sobre a minha recuperação de uma difícil cirurgia na cabeça e como estava a minha vida depois da recente separação de um casamento de dez anos.

 Disse a ele que estava me recuperando, tocando a vida para frente. Ele ficou feliz em ouvir minhas palavras, disse-me que poderia contar com ele sempre, para não perder contato e que a minha separação não mudava nada, que eu continuava sendo para ele o que sempre fui desde quando me conheceu, que seria sempre avô dos meus filhos e me desejava muito sucesso e felicidade.

 Para mim esse é Leonel Itaussu, um homem intenso, fiel aos seus princípios, simples,dedicado, empolgado com seu trabalho, com sua família e com a vida. Deixou em meu coração muitos exemplos, os quais levarei comigo por toda a vida. O maior de todos é a forma como viveu, com intensidade e apaixonado pela vida.







sexta-feira, 3 de maio de 2013

Seriam Todos os Homens Machistas?



 Os homens vivem uma relação ambígua com as mulheres. Nós as amamos, as desejamos, mas ao mesmo tempo, as tememos. Dentro de nossos corações existe aquele medo arraigado de sermos literalmente engolidos pelas mulheres, principalmente aquelas que amamos ou que nos apaixonamos. Talvez esse medo seja a verdadeira raiz da cultura machista.
 Eu fui criado rodeado de mulheres. Tenho uma irmã gêmea e outra mais nova. Meu pai trabalhava o dia inteiro só o via mesmo aos finais de semana. Minha mãe professora no período noturno ficava conosco todos os dias. Principalmente nos primeiros anos de vida, minha convivência diária era com elas, tinha uns amiguinhos vizinhos, mas elas tinham amiguinhas também então a casa sempre teve mais meninas do que meninos.
 Meu pai nunca foi um cara machista. Ele viveu toda a transformação dos anos sessenta, nunca fez distinção sobre homens e mulheres. Mas confesso que sua postura em relação a elas não teve tanto impacto em mim quanto a de minha mãe.
 Minha mãe também viveu toda a revolução feminista dos anos sessenta. Quando nasci tinha vinte e poucos anos, era professora, independente, sempre viveu em pé de igualdade com meu pai, financeiramente inclusive. Mas isso eu só pude ter consciência mais tarde. O que pegou mesmo foi o modo como ela me criou, e isso moldou minha forma de ver e me relacionar com as mulheres.
 Na minha casa nunca teve distinção entre eu e minhas irmãs. Aquelas coisas do tipo ele pode porque é homem, você é menina e tem que se comportar de uma forma diferente nunca existiu por parte de meus pais.
 Mais tarde já na adolescência a convivência com as minhas irmãs era muito próxima, tínhamos muitos amigos em comum e descobri uma vantagem em ter irmãs; as amigas, principalmente da minha irmã gêmea. E também nunca fui aquele irmão ciumento que não deixava as irmãs namorarem. Posso dizer então que realmente o universo feminino é bem próximo.
 Entretanto, o tal “medo de ser engolido” se fez presente com muita força já nas primeiras paixões e amores. Ficava aturdido e impressionado com o poder que as amadas tinham sobre mim.  Claro que a adolescência e a tenra juventude são fases da vida em que tudo ganha uma dimensão gigantesca, mas, acredito que esse poder que as mulheres têm sobre os homens nos deixa bem receosos e inseguros.
 Desse medo arraigado durante vários milênios é que se sustenta toda a tradição machista da sociedade, os abusos, a cultura de opressão e de falta de liberdades que ainda hoje persiste em vários países. Morremos de medo de perdê-las, de nos tornamos inúteis para elas, ainda mais nos dias de hoje em que o papel do homem na vida em sociedade e na família mudou radicalmente. Não somos mais os provedores da família e também somos chefiados por mulheres e isso nos coloca mais uma grande dúvida; qual é o nosso papel nesse mundo novo?
 Eu não me considero machista, mas já fui tachado de machista em várias situações, muitas delas(penso eu) pelos motivos errados, pois ser tachado de machista por alguma posição política e com argumentos não machistas é uma distorção. Eu sou um não machista pelo simples fato de ter praticamente erradicado o que considero a raiz do machismo.
 Digo praticamente porque como todo homem, lá no fundo da alma ainda resiste um cadinho de medo desse poder que elas tem. Quando ele aparece eu procuro sempre me lembrar de que o medo é uma das piores tragédias do ser humano e que eu tive o privilégio de ter a companhia de uma mulher, minha irmã gêmea, mesmo antes de nascer.


quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Inimigo Invisível.


Estava ele pronto para encarar a força da natureza. No auge dos seus vinte e seis anos em plena forma física, havia também se preparado mental e fisicamente, fazia Yôga há mais de dois anos, treinava regularmente e  fez viagens aos mais diversos e exóticos cantos do planeta para galgar degrau por degrau a confiança necessária para desafiar aquelas ondas gigantes.
Da praia famosa e paradisíaca via as ondas á distancia, sabia do grau do desafio que havia se proposto, mas daquelas areias brancas o mar não parecia tão perigoso. Nessa hora a confiança, à vontade e a agitação de estar vivendo aquele momento sonhado desde a adolescencia o deixava excitado e feliz.
Mesmo assim ao tomar a derradeira iniciativa de entrar no mar, acompanhado de dois grandes amigos Marcelo e Renato, que como ele estavam ali pela primeira vez, um arrepio lhe percorreu a coluna cerebral, e um frio na barriga anunciou que um companheiro estava dentro si, o medo.
Marcelo nada disse e foi tratando de pegar sua prancha e começou a se preparar. Renato olhou e disse; “vamos nessa?” “Claro” respondeu de imediato, e começou os preparativos. Com a decisão tomada, o coração se acelerou, os preparativos com o equipamento, aquecimento e alongamento só postergavam o inevitável, ele pensou; vim aqui para isso, não vou amarelar agora. Era um compromisso consigo mesmo, aquelas coisas que cada um tem dentro de si, que para os outros nada valem, mas que tem um valor íntimo, pessoal muito da alma.
Atirou-se ao mar e começou a remada. O coração batendo forte era só reflexo da adrenalina que começava a percorrer seu corpo. Quanto mais se aproximava da zona de arrebentação das ondas percebia que realmente era tudo diferente do que já havia experimentado, o volume de água deslocado, o tamanho das ondas que passavam fácil dos quatro metros de face.
Ao ver a primeira onda de uma série, junto com todos que estavam lá, começou a remar com todas as forças para o fundo, pensou “não quero tomar essa onda na cabeça”, ao passar pela primeira, viu a segunda mais ao fundo e aí, o desespero se instalou de vez. Conseguiu passar por ela no limite mais na terceira, já vinha do fundo uma espuma branca enorme, um rolo compressor de água, ele abandonou sua prancha e mergulhou o mais fundo possível.
Mas nada o havia preparado para o “caldo” que viria, o tranco da onda o jogou como um boneco para cima e para baixo por um tempo muito longo. Quando a onda finalmente o libertou, abriu os olhos nadou para a superfície, percebendo que estava bem no fundo, foram várias braçadas até finalmente, já quase sem ar voltar à superfície.
Estava muito assustado e o medo tomou conta da sua mente. Ficou ali observando as ondas e os surfistas a surfa-las. Aos poucos se acalmou permaneceu ali, sem reação por mais de uma hora, quando, finalmente conseguiu controlar seus pensamentos, falou para si mesmo:
“Viajei até aqui para isso, há anos venho me preparando, meu grande sonho sempre foi vir ao Havaí e surfar essas ondas, não posso perder para mim mesmo, preciso ao menos tentar uma onda”.
Com isso em mente, ele se posicionou junto com os outros surfistas, as series de ondas entravam, ele foi acertando o posicionamento era difícil pegar uma, pois várias lendas do esporte estavam na água e dominavam a situação.
Estava ali meio resignado e derrotado, quando veio uma da serie e não havia ninguém para disputá-la, estava na posição certa com a prioridade. Seu coração disparou e pensou seja o que Deus quiser, nessa eu vou. Com a adrenalina a mil no sangue remou forte, olhando para frente, determinado, concentrado.

Foi quando sentiu a onda o levando, ficou de pé e desceu com tudo aquela parede de água. A velocidade era absurda, chegou a base da onda e fez a virada, posicionou a prancha e pode ver aquela onda maravilhosa, enorme. O barulho da onda quebrando atrás dele era como o de uma avalanche. Surfou a onda toda até o fim e sentiu toda a sua energia.

A sensação era indescritível. Um misto de alegria, orgulho, adrenalina tudo junto e misturado. Nem voltou para o fundo, saiu do mar com um largo sorriso e os olhos brilhando. Ele já não era mais o mesmo.

 Havia vencido o pior inimigo de todos nós, aquele que fica escondido bem lá no íntimo do nosso ser; o medo de fracassar. Agora a praia de Sunset era um pouco sua. Tinha dado o primeiro passo, surfou a primeira onda, abriu o caminho.

terça-feira, 26 de março de 2013

Papai por que a gente nasce ?


Lá estou eu, umas oito horas da noite, comendo um jantar básico num dia qualquer da semana quando vem ele, meu pequeno professor de seis anos de idade e manda, como diz a gíria, na bucha, a fatídica pergunta: "Papai porque a gente nasce?" Confesso que já estava acostumado aos porquês dessa pequena criatura mas fui pego de surpresa.

A questão existencial da humanidade: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Borbulhando nessa criança que ontem mesmo usava fraldas me tirou daquele torpor em que noventa e nove por cento da humanidade vive. Vivemos tão alienados, preocupados com as contas para pagar, comprar, trabalhar, em ver a novela, o futebol, sexo, enfim, em encher nossos egos com tudo aquilo que nos distrai, que na verdade não pensamos,  não enxergarmos a vida com consciência, não vivermos plenamente.

Esse pensamento me veio como um raio, percebi que tinha abandonado essa questão há muitos anos. Quando mais jovem sempre fui muito questionador, existencialista mesmo, mas não do tipo sartriano. Era mais otimista digamos assim. Buscava saciar a minha sede de respostas na literatura. Li muito livros de filosofia, esoterismo, literatura, história, geografia e romances de todo o tipo. Me deslumbrei com os filósofos no início, mas depois de alguns anos me pareciam meio vazios. Das religiões pouco tirei. Não sigo nenhuma religião. Me atrai a filosofia cristã, budista e espírita. Para mim faz sentido coisas como reencarnação, lei da causa e efeito e imortalidade da alma.

Nesse ofício de pai temos uma surpresa a cada dia. Vamos evoluindo junto com os nossos filhos. Esse meu pequeno é realmente um desafio. Talvez todas as crianças desafiem a inteligência e sabedoria dos pais. E quanto menor o filho, mais o pai se acha sabichão. No meu caso, desde muito cedo me acostumei ao jeito questionador desse garotinho que não aceita que as coisas sejam simplesmente impostas, sem muita explicação.

Fiquei por segundos olhando aquele menino de sorriso largo, altivo, ávido por conhecer tudo e que adora fazer experiências e desbravar novos lugares. Ele nunca precisou de companhia para brincar. Quando quer que eu participe, tenho que entrar no seu mundo, como num teatro ou filme e ele fica muito bravo e reclama quando não entro de cabeça no seu mundo de fantasia. Diz que estou estragando tudo.

Sem levantar a cabeça, olhei-o nos olhos, comovido com a pergunta. Não queira falar qualquer besteira só para saciar a curiosidade do pequeno e voltar para a minha refeição. Senti que era um momento único e decisivo. Talvez dessa resposta, da honestidade dela dependeria a amizade e confiança entre pai e filho para o resto da vida. E foi nesse nosso diálogo, honesto, sincero e fraterno que tive uma grande revelação:

- Papai!

- Diga filho.

- Por que a gente nasce?

(pausa)

- Boa pergunta filhinho! Essa é uma pergunta muito difícil. Na verdade o papai não sabe.

O pequeno vira as costas volta para a sala e depois de alguns segundos volta e diz:

- Papai eu sei a resposta! A gente nasce para cuidar do planeta e de tudo o que tem dentro dele.

Abri um sorriso e muito feliz em ouvir a sua resposta, respondi:

- Concordo filho, deve ser para isso mesmo que nascemos.

Ser pai é um o privilégio. É ser o aprendiz e ter uma criança como mestre.



sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma Certa Manhã de Verão.


Ele acorda se espreguiça na cama, sente os músculos, as pernas, a luminosidade da manhã entra pela sua retina. É um novo dia que começa, mas ele não quer esse dia, ele não quer esse recomeço. Depois de passar por tantas coisas, de renascer para a vida, o medo invade seu coração, o apego por um contexto que não existe mais é mais forte. Vem uma vontade de chorar, de dormir e não acordar mais.
O céu lá fora esta de um azul lívido, claro, sem nuvens, ele pensa “que dia lindo”, mas em seu coração existe uma cicatriz, a vida lhe deu essa cicatriz, ele não reclama, mas tem vontade. Aos quarenta anos, se sente incompleto, ele sente em seu coração que não cumpriu aquele sonho besta de vinte anos atrás, aquelas coisas fantasiosas que imaginamos aos vinte anos, sucesso profissional, uma família linda, uma esposa maravilhosa, etc. Não que não tivesse filhos e nem uma situação financeira estável, não era rico e nem pobre, mas, estava, por um capricho do destino, no mesmo quarto de vinte anos atrás, só.
 A cabeça está envolta em vários sentimentos, pensa; “mas eu sobrevivi a minha doença, estou vivo”, para logo depois pensar que talvez tivesse sido melhor ter morrido. Ele se lembra de quando achava bonito morrer jovem, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Cazuza, Janis Joplin, vários heróis do rock que ele tanto gostava se foram cedo.  Nunca teve medo da morte, talvez por isso não dê muito valor ao fato de tê-la vencido, de ter se curado. Mas, descobrir um tumor aos trinta e nove anos, o deixou diferente, a doença em si era muito maior do que a morte, um cara que é saudável, ou pelo menos aparenta estar saudável, é que é ainda jovem, toma uma porrada na cara quando dizem que ele tem um tumor e pode ser fatal. “Porque comigo será um carma, eu mesmo criei esse monstro dentro da cabeça?” Mas na verdade ter descoberto o tumor não foi nada perto de tudo o que mudou em sua vida. Sua forma de ver a vida mudou completamente, a cura mudou sua percepção das coisas, seu casamento que chegou ao fim, seus filhos que eram um peso em sua vida e passaram a ser o maior tesouro que já pôde ter.
Nesse dia claro e quente de verão esse homem de quarenta anos de idade está enfrentando o desconhecido, o novo, todas as possibilidades que a vida pode lhe oferecer, possibilidades que até alguns meses atrás sempre estiveram à sua frente, mas ,ele não via, estava cego, e agora, enxerga. Vê as possibilidades, vê as responsabilidades que adquiriu, sente o um amor incondicional pelos filhos, pela família, pelos amigos, pela própria vida em si e tudo isso junto o aterroriza. Nessa manhã ele sente que precisa fazer uma escolha, precisa tomar um rumo, que não pode desperdiçar a chance que a vida está dando, após uma difícil cirurgia, um pós-operatório bem deprimente, difícil, que o deixou mais fragilizado e exposto do que jamais esteve ou vai viver tendo pena de si mesmo cristalizado na nostalgia de um passado que não vai voltar mais, chorando pelo “amor perdido, pelos erros do passado”, ou, pode fazer o mais difícil.
O mais difícil é tomar as rédeas do seu caminho, deixar de ter pena de si, perdoar a si mesmo, seus próprios erros, olhar para dentro da própria alma e enxergar o seu lado sombrio, reconhecê-lo, perdoá-lo, levantar a cabeça e seguir em frente. A inércia o empurra para a primeira opção, mas ele se lembra de quem era quando criança e jovem, nunca jogou esse jogo; o de ser vítima de si mesmo. Essa é a pior derrota, a mais comum também. Na verdade esse processo mental todo já vinha se desenrolando em sua cabeça há algumas semanas, mas nessa manhã em particular, tomou uma urgência descomunal.
Após tomar banho, se vestir e comer o desjejum, ao sair de sua casa a vida estava à sua frente, gritando, escancarada, obrigando-o a decidir-se, a dar o primeiro passo desse verdadeiro despertar para uma plenitude que ele talvez nunca tenha vivido. E foi essa urgência, inexplicável, profunda, da alma mesmo, que o fez pensar e dar o primeiro passo; “eu fiz o meu melhor, talvez não tenha sido o suficiente, eu me perdoo por isso e vou levantar a minha cabeça, agora mesmo vou começar uma nova vida, farei melhor ainda, porque esses erros do passado não mais os cometerei. Está decidido que a busca da felicidade será retomada, amarei mais, me dedicarei mais àqueles que amo, eu explorarei todas as possibilidades que a vida me oferecer, sou grato por poder ver agora, aos quarenta anos de idade, que a vida é magia pura, é uma viagem fantástica, sublime, divina, iluminada.”

Nessa manhã, ao sair para trabalho, ele deu o primeiro passo de uma vida renovada, consciente, ele nunca se sentiu tão jovem, tão poderoso, o livro estava novamente aberto, as páginas em branco e ele começava a escrever as primeiras palavras.